Legenda da foto: Nazaré Carvalho (Tia Nazaré), em meados dos anos 70, no programa “Nosso Mundo Infantil” (TV Atalaia) - (Crédito da foto: reproduzida do Facebook/Linha do Tempo/Nazaré Carvalho)
Artigo compartilhado do site SÓ SERGIPE, de 18 de julho de 2025
Coluna > Outras palavras
Para Tia Nazaré — memórias afetivas da TV sergipana
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Em sua coluna “Radiolândia — Tudo sobre rádio”, do dia 15 de junho de 1968 (Lagarto-SE, p. 5), Paulo Lacerda assim se referiu a ela: “(…) é uma das mais competentes locutoras do Estado, e possui inclusive uma excelente voz que agrada ao mais exigente ouvinte. Você está bem, Nazaré”. Anos mais tarde, entre 1971 e 1979, ela esteve à frente de dois dos maiores sucessos da televisão local, liderando expressivos índices de audiência, apresentando os programas infantis “Clube Júnior” (TV Sergipe) e “Nosso Mundo Infantil” (TV Atalaia). Entre seus milhares de fãs mirins, este que vos escreve.
Em duas oportunidades, em tempos diferentes, eu pude estar com dela e não escondi, nem um pouquinho, a minha gratidão e tietagem. Na primeira, como um de seus entrevistados no Programa “Acontece”, da TV Caju, em agosto de 2009. E mais recentemente, por ocasião das celebrações do aniversário de 177 anos da Biblioteca Pública Estadual Epifânio Dória, em junho do corrente ano. Aliás, nesta última, ela fazia as vezes de cerimonialista e eu, de um dos palestrantes. Quando a vi no púlpito, foi primeiro a voz que disparou o gatilho das minhas melhores memórias afetivas. Voz inconfundível e toda singular, como destacou Paulo Lacerda. Em seguida, apurei os olhos e fiquei naquela dúvida: será ela mesma? Ao se aproximar de mim, já no palco, para me oferecer água — enquanto outro palestrante falava —, não perdi tempo e lhe perguntei ao ouvido: “Tia Nazaré?”; e ela, sorrindo, confirmou, para minha alegria. Só lamento não ter tido tempo de fazer um registro fotográfico em razão do corre-corre de retornar para Lagarto, por conta de outro compromisso.
Tanto na primeira oportunidade, quanto na segunda, ficou em mim aquele desejo e compromisso de um dia escrever algo a seu respeito e externar todo o meu carinho e gratidão, dado que um de seus programas foi importante para a minha formação inicial, tanto cognitiva quanto lúdica. E nesse sentido, destaco e recomento o belíssimo trabalho de Rísia Rodrigues Silva Monteiro: “Nazaré Carvalho e a circulação de práticas educativas na TV Sergipana (1971-1979”. Trata-se de uma dissertação do Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, sob a orientação do Prof. Dr. Joaquim Tavares da Conceição (São Cristóvão, 2016), disponível em https://ri.ufs.br/handle/riufs/4807
Hoje com 75 anos de idade, Maria Nazaré de Carvalho é natural da cidade de Nossa Senhora das Dores (25 de agosto de 1949). É filha de policial militar e de professora pública, migrando para Aracaju em tenra idade. No final dos anos 60, após uma experiência como caixa de supermercado, estreou na Rádio Cultura, antes mesmo de completar a maior idade, apresentando o programa “Boa tarde, madame”, de segunda a sexta, entre 16h30 e 17h. Dali, não saiu mais da área da comunicação, com uma carreira brilhante, sobretudo conservando e imprimindo características salientadas a seguir por Rísia Monteiro:
Além da presteza, simpatia e disposição para o trabalho atribuídas pelos entrevistados à Nazaré, outra particularidade da radialista chamava a atenção das pessoas: a voz. Um timbre grave e aveludado e a dicção perfeita impressionavam (p. 86)
No auge de seus programas infantis, eu estava naquela primeira fase da infância, até os cinco anos de idade. Portanto, sou dá época do programa “Nosso mundo infantil”, que ia ao ar, de segunda a sexta, entre 15 e 17h, pela TV Atalaia. Na época, eu ainda não frequentava escola e, dessa forma, para além da alfabetização inicial em casa, Tia Nazaré supria as minhas necessidades iniciais de aprendizagem.
Sempre muito alegre e animada a tia Nazaré abria o programa cumprimentando a todos do estúdio e de casa. Anunciava as atrações da tarde, a presença das escolas participantes, aniversariantes do dia, cantava com as crianças, mostrava algumas fotos e desenhos recebidos (Rísia Monteiro, 2016, p. 112)
Além da beleza, chamava a minha atenção a forma divertida e leve de apresentar e de conduzir o programa, entretendo, animando, brincando e ensinando. Anos depois, já com a consciência do mundo e das coisas, pude perceber que “Nosso mundo infantil” não deixava em nada a desejar para o que veio depois, em nível nacional, a exemplo de Show da Xuxa ou programas do gênero. Não tinha a produção deste, é bem verdade, mas sendo um produto cultural sergipano, em muito nos enchia de orgulho.
Embora Nazaré Carvalho tenha se destacado em outros campos da comunicação e até mesmo da vida pública ao longo de sua vida, em meu imaginário — mesmo agora que estou com mais de cinco décadas — ela sempre será para mim a Tia Nazaré, a quem rendo todas as homenagens possíveis, com este humilde tributo de uma criança que deu certo, graças, de modo particular às práticas educativas que ela desenvolvia com muita habilidade, destreza e doação naqueles anos 70 da vida cultural e televisiva sergipana.
Obrigado, Tia!
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(*) Articulista Claudefranklin Monteiro Santos, é Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.
Texto e imagens reproduzidos do site: sosergipe com br
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