Publicado originalmente no site da revista TRIP, em 16 de dezembro de 2019
Andréia Sadi é a tecla sap
A missão que a jornalista se colocou é tão clara quanto as
informações que leva ao ar: encarar as figuras mais polêmicas de Brasília para
explicar ao público leigo o complexo cenário político do país
Por Bruna Bittencourt
“Eu gosto de ser a tecla SAP”, diz Andréia Sadi, maquiada e
com cabelo impecável, como pede a televisão, durante um intervalo entre suas
várias aparições ao vivo ao longo do dia. “Brinco que a minha mãe é o meu
termômetro. Se ela me liga e fala ‘não entendi nada do que você disse na
televisão’, sei que preciso achar um jeito de traduzir isso melhor para as
pessoas.”
A repórter de 32 anos tem como missão explicar o intricado
cenário político brasileiro, o que faz em várias frentes, como o Jornal Hoje,
da Globo, o programa Em Pauta e os noticiários da GloboNews, onde ficou
conhecida pelo público. Neste ano, passou também a apresentar o podcast Papo de
Política, ao lado de Maju Coutinho, Natuza Nery e Julia Duailibi, além do Em
Foco, também exibido pelo canal pago de notícias.
No programa, sua primeira empreitada solo, tem recebido
alguns dos maiores protagonistas da política nacional, e contemplado os dois
lados da polarização, do senador Flávio Bolsonaro ao deputado federal Marcelo
Freixo (PSOL-RJ), passando pelos chefes de poder, como o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.
“Alguns me recebem na casa deles, outros em lugares que gostam de frequentar”,
diz. Isso inclui encontrar a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) em sua fazenda, no
interior do Tocantins, ou conhecer as vacas e galinhas criadas pelo ministro do
STF Marco Aurélio Mello no jardim de sua casa. “A notícia pode ser contada de
um jeito mais informal. As pessoas entendem mais fácil dessa forma.”
Para construir todas essas relações, Andréia morou por dez
anos em Brasília. Chegou à cidade aos 21 e trabalhou para iG, G1, Folha de
S.Paulo, até começar na GloboNews, em 2015. “Ninguém me pegou pela mão e disse:
‘Vem aqui, vou te mostrar o que é a Câmara, o Senado, o Palácio’”. A jornalista
Renata Lo Prete, que conheceu Andréia no início da carreira, diz:
“Parafraseando uma máxima antiga do futebol, que jornalismo é movimento; quem
se desloca tem a preferência. E ela se desloca o tempo todo”.
A repórter, que adora um hard news, ficou no ar por 24 horas
em duas ocasiões, protagonizou algumas gafes e até virou vinheta da GloboNews.
Também já deu furo do táxi, presa no congestionamento, via celular. Durante a
maquiagem para essas fotos, ela acompanhava a uma transmissão do STF. “Você tem
sangue de repórter. Apura, publica e só então lembra que precisa ir ao próprio
casamento”, ouviu do mentor e jornalista de política Jorge Bastos Moreno
(1954-2017).
Andréia, claro, não deixou de ir ao casamento com o ex-marido
Paulo Celso Pereira, diretor da sucursal de Brasília d’O Globo e da revista
Época, em 2013, mas resolveu os preparativos da cerimônia em São Paulo a
distância, por WhatsApp. “Nem cheguei a fazer a degustação dos pratos”.
Por causa desse trabalho e de ser um rosto tão conhecido da
cobertura política, tem fã-clube no Instagram e já foi do programa de Ana Maria
Braga ao de Gilberto Gil, no Canal Brasil. Do compositor, ganhou uma música,
parceria com Jorge Bastos Moreno, “Lia e Deia”, dividida com a atriz Maria
Ribeiro, um pedido-meio-piada das duas amigas em um dos vários encontros na
casa do jornalista. “Brinco que a gente virou uma dupla sertaneja para sempre.
Andréia é muito divertida”, diz Maria. Ultimamente, apesar do seu
estranhamento, a repórter virou notícia por conta de seu namoro com o
jornalista esportivo e apresentador do SporTV André Rizek. “Jornalista não é
artista”, diz.
Em tempos de descrença em Brasília e da banalização do
período autoritário no Brasil, ela não vê outra saída que não seja pela
política e pela via democrática e evoca o amigo Gil: a fé não costuma falhar.
Tpm parou a repórter que liga e apura com ministros e senadores até aos
domingos para falar sobre sua vida dentro e fora do jornalismo.
Tpm. Você nasceu em um carro?
Andréia Sadi. Nasci. Pergunto tantas vezes sobre essa
história que minha mãe fala: “Andréia, pode parar de apurar, não sou uma das
suas fontes. Fui eu quem pari!” [risos]. Ela conta que a bolsa estourou quando
estava tomando banho e tentou chegar ao hospital, que ficava na avenida
Paulista, mas, quando estavam na alameda Campinas, percebeu que não tinha mais
o que fazer. Bloquearam o trânsito, as pessoas no ônibus começaram a bater
palma e eu saí tão forte que ela precisou me segurar com a batata da perna. Meu
pai confirma que ela fez tudo sozinha.
É uma família de ascendência árabe? Andréia Koudsi Sadi, não
dá para ser mais árabe, né? Os dois lados são. Meu avô materno veio do Iraque e
a família da minha avó paterna do Vale do Beca, no Líbano.
Você e sua mãe se dão bem? Sim, a gente é muito ligada. Ela
é fantástica, uma heroína. Se me perguntavam “o que você quer ser quando
crescer?”, dizia que queria ser ela e, como sempre ralou muito, tinha na cabeça
que não daria trabalho. Quando eu tinha uns 12 anos, meus pais se separaram e
foi um choque, porque eles eram um casal 20. Eu e meus dois irmãos ficamos com
minha mãe [Andréia é a filha do meio]. Imagina: cuidar de três adolescentes não
é fácil, mas ela teve a proeza de manter a gente muito unido. Já com meu pai
batia muito de frente, era rebelde. Mas hoje temos uma relação excelente, ele é
meu ombudsman particular.
Você estudou em um colégio de classe média alta. Teve uma
adolescência com uma boa estrutura? Tive. Estudei no Chapel [colégio americano
da elite paulistana], mas depois da separação ficou difícil para eles pagarem a
escola. Fui para um colégio brasileiro [de classe média], o Doze de Outubro. E
foi ótimo porque saí da bolha. Passei a ter amigos de todos os lugares. Foi um
choque de realidade, mas no bom sentido, porque também me preparou para a vida.
Você teve alguma atuação política na escola? Já fez parte de
grêmio? Nunca. Gosto de ouvir as histórias das pessoas, entender como isso move
o mundo. A minha primeira ideia era ser advogada. Mas meu pai queria tanto que
eu fosse [ele se formou em direito, mas atua no mercado financeiro] que falei:
“Não vou ser advogada, não”.
Além da mudança de colégio, que outros episódios te
prepararam para a vida? A doença da minha mãe. Ela teve câncer quando eu estava
no último ano da PUC. Me revezei com meus irmãos para cuidar dela no hospital
porque fez quimioterapia. É muito sofrido, para quem tem, mas também para quem
está próximo. Passei a ter dimensão do que importa, das pessoas que realmente
estão do meu lado. Sou muito família.
Como a política surgiu na sua vida? Desde nova, gosto de
acompanhar política. Primeiro pensei em fazer jornalismo internacional porque,
por conta do colégio americano, sempre fui ligada nisso. Mas fui fazer uma
seleção no Estadão, passei no estágio e tive que escolher entre política ou
polícia. Botei política, foi meio intuitivo, mas eu amo. Lembro que, quando
estava na faculdade, fui internada por apendicite, e ficava vendo TV Câmara no
hospital.
“Ninguém
me pegou pela mão e disse: ‘Vem aqui, vou te mostrar o que é a Câmara, o
Senado...”
Andréia Sadi
Quando você se mudou para Brasília? Tinha 21 anos. Fiquei
dez anos lá e foi como um mestrado. Todo jornalista de política e economia
precisa passar por Brasília porque dá estrutura e maturidade. Ninguém me pegou
pela mão e disse: “Vem aqui, vou te mostrar o que é a Câmara, o Senado, o
Palácio”. Hoje, sei todas as entradas e saídas de cada um, porque você acaba
morando ali. Brasília é tipo a Disney para quem gosta de política.
O que acha que te difere de outras repórteres de política?
Qual é a sua marca? Sempre gostei muito dessa coisa do hard news. Sou uma
repórter do ao vivo. Quando faço matéria para o Jornal Nacional ou para o
Jornal da Globo, gravo um VT. É claro que a história é melhor contada porque
você tem mais tempo para pensar, para escrever. Mas troco qualquer coisa por um
ao vivo. Porque não posso errar a informação, mas estou contando uma história,
então às vezes confundo nomes, brinco… O ao vivo me aproxima mais das pessoas.
Você também fala muito que gosta de “apertar a tecla SAP”.
Se você não entender o que eu estou falando, para mim isso é uma derrota.
Lembro que quando entrei na GloboNews, se alguém me contava alguma coisa da securitização
da dívida ativa da União, eu falava: “Ministro, se eu não estou entendendo, não
tenho como explicar”. E quando ele me fazia entender, sentia um prazer enorme.
E aí todo mundo ganha: você, porque fez o espectador entender – e a nossa
profissão é essa –, e a pessoa que está em casa, que se identifica com o seu
desconhecimento naquilo.
Mas você não parece desconhecer. No fundo, sou insegura, mas
apuro tanto a informação antes de levar para as pessoas que fico segura.
Percebe que ascendeu na carreira rapidamente? Na TV talvez
tenha sido rápido. Teve o fator sorte e também o contexto histórico, aquela
coisa de estar no lugar certo, na hora certa. Entrei na GloboNews em setembro
de 2015 e logo em seguida estourou o impeachment. Estava cobrindo o assunto, já
tinha todas as relações, construí isso desde 2010. E os eventos políticos
também aconteceram de forma rápida, alavancando o interesse das pessoas. Você
acaba ficando em destaque; não só eu, mas outros colegas também.
E você começou seguindo a Dilma para todo lugar. Fui o que
se chama de repórter carrapato. Adoro essa função. A minha alma é de repórter e
vai ser assim para o resto da vida. Me incomoda quando ouço: “Ai, não faço
portaria”. Repórter faz portaria. Se eu tiver que ficar dez horas na chuva
esperando um ministro para falar com ele, vou ficar. Sou persistente.
O Em Foco foi uma proposta sua ou a GloboNews te sugeriu o
programa? Foi minha. Propus para o Ali Kamel [diretor-geral de jornalismo da
Rede Globo] em janeiro e em fevereiro já estava no ar. Gosto do hard news, mas
também gosto de contar a história da pessoa, de entender, por exemplo, o que
leva alguém que estava bem como empresário a se lançar na política. Também
sempre gostei de fazer perfil, entender como é a vida de figuras públicas
quando estão em casa… A [senadora] Kátia Abreu, que me deu entrevista na
fazenda dela, tem uma história muito interessante: criou os filhos sozinha,
porque o marido morreu quando ela tinha 25 anos. Coisas assim ajudam a entender
por que ela defende a arma no campo, por exemplo. É interessante conhecer esses
bastidores.
Você já errou? Já foi processada? Processo todo mundo já
levou, né? Graças a Deus, vivemos em um Estado democrático e quem se sente
ofendido pode recorrer à Justiça. Isso me aconteceu quando eu trabalhava na
Folha. O processo foi perdido por quem processou porque fiz a matéria com base
em informação. É o que sempre falo: perco o furo, mas não dou barriga [uma
informação equivocada]. Para mim, isso é lema de vida. Se estou insegura para
dar a informação, não levo ao ar. Acho que nunca dei uma notícia ouvindo uma
pessoa só. Tenho preguiça na minha vida pessoal, digo: “Amiga, esquece, não vou
até lá”. Mas no trabalho isso não existe.
Teve uma entrevista mais difícil? Acho que todas foram. Não
existe um ao vivo, pelo menos no meu caso, que não me deixe tensa antes de
entrar no ar. Mas acho isso bom. Quando você está alerta, a chance de errar é
menor, porque você está sempre preparada. Se você achar que está tudo bem, é a
lei da vida, vai errar. Então, prefiro estar tensa.
“Na corrida, já mando os áudios no WhatsApp: ‘Ministro,
posso te ligar em meia hora?" Andréia Sadi
Mas, como espectadora, imagino que a entrevista com o Flávio
Bolsonaro, em que você perguntou sobre as milícias, tenha sido mais difícil do
que a que fez com o Rodrigo Maia. A entrevista com o Flávio era sobre o caso
Queiroz. Foi um bloco de 20 minutos praticamente só disso. Eu me preparei muito
e ele foi respeitoso, respondeu a tudo. Na entrevista com o Rodrigo Maia, ele
tinha acabado de se eleger presidente da Câmara pela terceira vez e também me
preparei muito, pois tinha a pauta da agenda econômica, um tema que domino
menos. Cada uma delas me deu um tipo de nervosismo diferente. A Central das
Eleições, programa em que a gente entrevistava os candidatos a presidência e a
vice, também me demandou demais. Era no meio da eleição, todo mundo estava
assistindo.
Qual entrevista você ainda não fez e está atrás? Outro dia, brinquei
que faltava a Michelle Obama [risos]. Mas acho que a entrevista que estou
buscando mesmo é com o [ministro da economia] Paulo Guedes.
Que prognóstico você faz sobre a participação das mulheres neste cenário político? Converso muito sobre isso com a bancada feminina, que não é um partido só, são todos. As deputadas falam que, quando os deputados vêm com essa história de querer acabar com a cota feminina, é porque eles querem perpetuar o poder masculino nas cúpulas partidárias. Porque a cúpula é quem diz para onde vai o dinheiro e, se você tem pouco, a sua candidatura não consegue avançar. Assim, você perpetua os candidatos, que são em sua maioria homens. Acho que há, ainda, uma discussão sobre aumentar a representatividade feminina não só em quantidade, mas em postos— chave. O Temer, por exemplo, foi muito criticado porque não tinha mulher no governo. Já perguntei isso no programa para o Freixo, por exemplo – para não dizer que é uma coisa de governo mais à direita –, e ele falou: “Sadi, só existem dois tipos de homem, o em desconstrução e o em decomposição”. Porque o homem de esquerda também é machista, isso é uma coisa cultural. Todas as senadoras que foram ao meu programa falaram que há muito machismo no Senado. A Simone Tebet (MDB-GO) é presidente da Comissão de Constituição e Justiça, que é a mais importante do Senado, mas é a primeira vez que isso acontece e é como se fosse uma vitória ela chegar nesse posto. Os tempos mudaram. Tem que caber todo mundo, é o retrato da sociedade. Como é que você vai discutir as preocupações das mulheres no Congresso se falta mulher em postos relevantes? Não dá. Porque o homem pode discutir, mas vai fazer isso depois. E não dá mais para ser depois, tem que ser agora.
Que prognóstico você faz sobre a participação das mulheres neste cenário político? Converso muito sobre isso com a bancada feminina, que não é um partido só, são todos. As deputadas falam que, quando os deputados vêm com essa história de querer acabar com a cota feminina, é porque eles querem perpetuar o poder masculino nas cúpulas partidárias. Porque a cúpula é quem diz para onde vai o dinheiro e, se você tem pouco, a sua candidatura não consegue avançar. Assim, você perpetua os candidatos, que são em sua maioria homens. Acho que há, ainda, uma discussão sobre aumentar a representatividade feminina não só em quantidade, mas em postos— chave. O Temer, por exemplo, foi muito criticado porque não tinha mulher no governo. Já perguntei isso no programa para o Freixo, por exemplo – para não dizer que é uma coisa de governo mais à direita –, e ele falou: “Sadi, só existem dois tipos de homem, o em desconstrução e o em decomposição”. Porque o homem de esquerda também é machista, isso é uma coisa cultural. Todas as senadoras que foram ao meu programa falaram que há muito machismo no Senado. A Simone Tebet (MDB-GO) é presidente da Comissão de Constituição e Justiça, que é a mais importante do Senado, mas é a primeira vez que isso acontece e é como se fosse uma vitória ela chegar nesse posto. Os tempos mudaram. Tem que caber todo mundo, é o retrato da sociedade. Como é que você vai discutir as preocupações das mulheres no Congresso se falta mulher em postos relevantes? Não dá. Porque o homem pode discutir, mas vai fazer isso depois. E não dá mais para ser depois, tem que ser agora.
Ficou mais fácil para a mulher trabalhar em Brasília? O que
você escuta das colegas repórteres? É muito curioso, porque tem muita mulher na
cobertura de política. Hoje, a gente é mais ouvida, tem ganhado mais
relevância, em qualquer ambiente. Nunca passei por um tipo de resistência de
“nossa, por ser mulher eu não consigo cobrir política”. Você tem problemas como
em qualquer profissão. A política é um ambiente masculino? É muito. Mas você
tem que se impor.
E como você se impõe, em relação às fontes, se alguém te
chamar para jantar? Tenho sorte porque acordo muito cedo. Então, como estou
sempre no ar, acho que nem me chamam. Quando cheguei a Brasília, antes da TV,
estava começando, aí ia jantar. Mas não bebo, então isso me ajuda. Acho que vai
muito de como você se coloca. Nesse caso, não é nem sorte, é limite.
Em setembro, Guga Chacra se indignou publicamente com o
comentário do Paulo Guedes sobre Brigitte Macron. Cabe ao jornalista se indignar
de vez em quando? Nunca me esqueço que no governo Temer teve uma portaria sobre
trabalho escravo. O ministro da agricultura abrandava as regras que abriam a
interpretação para esse tipo de condição. Fui entrevistá-lo, ao vivo, não sabia
que estava no ar ainda e abaixei o microfone, indignada, porque era um absurdo.
Fiquei muito mal nesse dia, lembro que comentei sobre aquilo com vários outros colegas.
A Eugênia [Moreyra], que era a diretora da GloboNews na época, pegou isso e
transformou em vinheta uma semana depois. Acho que em alguns temas, por
exemplo, o caso Marielle, cabe indignação, porque é uma coisa muito maior, a
gente está falando de democracia, é uma vida, não tem nada maior que isso, na
minha visão. Quando estou discutindo feminicídio, fico completamente indignada,
falo sempre isso no ar. Qualquer referência aos anos de chumbo, ao AI-5, a
qualquer tipo de ação autoritária e antidemocrática, terá essa reação. Precisa
ter. O que me assusta é toda hora ter que ficar lembrando isso. Agora eu, especificamente,
sou repórter de política. Não sou articulista, não tenho lado. O meu lado é o
da notícia. Não estou interessada em ser A, B ou C. Você estar comprometido com
o fato é a coisa mais séria que tem. Mas alguns fatos são aberrações.
Como é uma semana sua, onde ela começa e termina? Depende da
entrevista da semana [no Em Foco]. Semana passada, por exemplo, comecei em
Brasília, para gravar com o procurador-geral da República, o [Augusto] Aras. No
dia seguinte, gravei com o presidente do PSL [Luciano Bivar]. Voltei para São
Paulo, porque faço o Jornal Hoje, os jornais da GloboNews, o meu blog, que eu
adoro, no G1. Na quinta, tem o podcast para gravar. Às sextas, tem a CBN, que é
por telefone.
“Como discutir as preocupações das mulheres no Congresso
se falta mulher em postos relevantes?” Andréia Sadi
São quantos voos por semana? No mínimo, uns quatro. Quando
gravo em Brasília, tento fazer só lá e São Paulo, porque senão fico entre
Brasília, São Paulo e Rio, e isso acontece direto. A entrevista com a Kátia
Abreu foi numa fazenda no interior do Tocantins. Lembro que naquela semana
voltei para Palmas, fui para o interior da Bahia, para um evento de integração
da TV, voltei para Salvador, fui para o Rio, para outro evento da TV, e voltei
para São Paulo. Brincava que no sétimo dia eu descansei. E quando você chega no
aeroporto, ainda encontra uma fonte. Aí não tem a menor chance de eu sentar.
E um dia seu, como começa? Acordo umas 6 da manhã e vou
correr, ir no personal ou no pilates antes de qualquer coisa. Faço qualquer
coisa para me convencer de que estou fazendo alguma coisa pra mim. Na corrida,
já mando os áudios no WhatsApp: “Ministro, posso te ligar em meia hora?”. Esses
dez anos morando em Brasília me ensinaram que ou você fala com fonte antes das
9h ou só depois das 22h.
E depois? Leio todos os jornais, até para me balizar, ver
por onde vou no dia. Porque eu tenho um guichê para o que vou falar na
GloboNews, um para o Jornal Hoje e um para o blog, no G1. Aí eu bato o blog,
vou para a TV, se estou aqui em São Paulo, e já me preparo para o Jornal Hoje,
que é o primeiro guichê do dia que eu falo na TV. Vou almoçar e depois volto
para a GloboNews, faço o jornal das 16h, o das 18h e o Em Pauta. Volto para
casa umas 22h. Às 22h40, estou deitada.
Tem algum momento em que você desliga? Tenho muita
dificuldade para desligar. Na casa da minha mãe, ninguém começa a comer até eu
largar o celular. Uma das minhas melhores amigas casou pouco depois que saiu o
escândalo do Temer envolvendo a JBS. Ela me fez prometer que eu iria na festa
de qualquer maneira e eu fui, mas não pude evitar dar uma mexida no celular
durante a cerimônia. Acho que já melhorei bastante, jamais faria isso hoje em dia.
Mas tenho que me policiar para não ficar uma pessoa chata, que vive trabalhando
o tempo inteiro.
É verdade que você já ficou 24 horas no ar? Duas vezes. A
primeira foi durante o governo Dilma, no impeachment. Acho que o Lula tinha
sido indicado ministro. A segunda vez foi no caso do Temer, no escândalo da
JBS.
Foi no episódio da Dilma que você virou vinheta da
GloboNews? Foi muito engraçado, é a coisa do ao vivo. Tinha acabado de sair uma
delação, acho que do Delcídio do Amaral, tinha milhões de coisas apuradas o dia
inteiro e me ligaram para falar: “Você vai abrir o Jornal das Dez, com a Renata
[Lo Prete]”. “Mas sobre o que eu vou falar?” Eles disseram: “Se organiza e fala
o que quiser”. Só que tinha tanta coisa para falar que eu queria dizer: “Renata,
por onde eu começo?”, mas não consegui porque entre essa ligação e o momento em
que fui para o ar foram dois minutos. Aí falei: “Renata, o que você quer saber?
Eu tenho informação do que você quiser!”. E ela começou a rir. Estava na
GloboNews há uns seis meses, no máximo, e quando saí do ar, lembro que tinha
muita gente me ligando. Eu não sabia o que tinha acontecido, não estava me
assistindo. Quando o Moreno me contou, fiquei morrendo de vergonha: “Não falei
isso! Tenho certeza que não falei isso!”. Aí depois a GloboNews, que é genial,
transformou em meme.
O quanto o Jorge Bastos Moreno foi importante na sua vida?
Ele foi o meu mentor, um mestre, um professor. De certa forma, ocupou um lugar
amoroso, de pai, principalmente de me guiar e falar “vai por aqui”, além das
coisas pessoais. Ele me abriu os olhos para muita coisa, eu era muito jovem
quando cheguei em Brasília. Tinha uma coisa de “as musas do Moreno”, só que ele
falava para mim: “Não te acho bonita”. E eu adorava, porque é difícil ser
mulher e precisar se provar umas 50 vezes. O olho do Moreno brilhava quando eu
dava um furo, e aquele reconhecimento, igual ao que você busca em pai e mãe, eu
tinha com ele, de querer dar um orgulho. Falava com ele mais do que eu falava
com qualquer pessoa. O Moreno era meio que uma entidade. Tinha a laje do Moreno
no Rio, um lugar único, que reunia muitos amigos. Chegava o Zuenir Ventura e,
de repente, a Mariana Ximenes. Acho que se eu fosse definir o que sinto por ele
em uma palavra é gratidão, eterna.
Seu ritmo é muito acelerado. Você se pergunta até quando vai
ter esse pique? Porque uma hora a idade começa a pesar, a gente precisa dormir
mais… Sou muito de ciclos. Planejei ficar quatro anos em Brasília, que acabaram
virando dez, mas foram incríveis, muito nessa correria de ficar 24/7. Minha mãe
sempre falava que eu tenho rodinha no pé. Acho que sempre vou ter esse pique,
essa disposição de fazer acontecer. Talvez com menos tempo quando a vida me
impuser, quando vier a maternidade, por exemplo. Quero ser mãe. E isso é uma
coisa muito clara pra mim, que terei um freio com a maternidade.
Uma mulher bonita e vaidosa muitas vezes tem seu trabalho
visto com desconfiança e precisa se provar ainda mais. Você sentiu isso? Desde
pequena, sempre fui a menos vaidosa entre as minhas amigas. Minha mãe nunca se
importou com isso. Ela parava a escola. As mães das minhas amigas achavam que
ela parecia a Luiza Brunet. Quando contava isso, ela ficava brava. Dizia que
beleza não põe mesa. Na minha casa, isso era uma conversa que quase não
existia. Nunca me vi desse jeito e nunca fui uma criança bonita, vivia brigando
com a balança. Minha vaidade sempre foi a da profissão, de não perder o furo.
Chego aqui [na Rede Globo] do jeito que dá, essa é a última coisa que estou
pensando. Outro dia, no camarim, as meninas falaram: “Ai, você tá tão linda”.
Respondi que essa era a maquiagem que elas tinham feito na noite anterior. Tive
que aprender tudo. Até a usar demaquilante.
“Jornalista não é artista e não é notícia. Está ali
para passar a mensagem” Andréia Sadi
Então, a TV te deu essa vaidade? A TV me deu essa
responsabilidade de casar a imagem com a informação. Eu não posso chamar mais
atenção do que aquilo que estou falando. Com o tempo, entendi que isso faz
parte do trabalho. Outro dia, cheguei aqui acabada, tinha 20 minutos para me
arrumar e as meninas brincaram que precisavam de 20 dias. Estava tão feliz que
tinha resolvido uma entrevista que nem estava pensando nisso. Mas na hora em
que vou para o ar, se estiver de qualquer jeito, vou chamar a atenção por isso
e a pessoa não vai ouvir o que interessa de fato. Eu não sou a notícia.
Mas ultimamente você tem virado notícia. É, mas acho isso
estranho, porque jornalista não é artista e não é notícia. Está ali para passar
a mensagem. Você está na televisão, as pessoas te veem e acham que você é
artista. Falava isso para o Rizek quando a gente começou a namorar: “É uma
coisa que me incomoda, minha vida pessoal não é notícia”. E ele falava: “Mas
ninguém quer saber da gente”. “Você está enganado, as pessoas querem saber de
tudo.” Acho que estamos num momento em que as pessoas querem consumir todo o
tipo de notícia. E cabe à gente se preservar. Sou jornalista, e jornalista tem
que falar. Não posso me furtar a falar com um jornalista, temos que reforçar a
nossa profissão. Você não está me perguntando o que eu gosto de comer, estamos
falando sobre mulheres no jornalismo, na profissão, e acho isso legal. Acho que
mais mulheres falando é sempre bom, porque nos fortalece.
Você e André Rizek já eram amigos? A gente fez um evento da
Conexão Globosat. Depois disso, ele começou a conversar comigo sobre política,
me mandava mensagem e tal, mas eu era casada e ele namorava. Era só amigo
mesmo, ou nem isso. Aí, no comecinho do ano passado, me separei. Eu gosto de
uma vida tranquila? Não, me separei no ano da eleição. E o Rizek continuou me
mandando mensagem, mas sobre política, a gente trocava informação. Ele brinca
que eu não percebia, e eu não percebia mesmo. Ele me mandou uma mensagem com um
furo de reportagem, essa foi a cantada dele. Só que fui responder dali a dez
dias, e aí a gente começou a conversar bastante. Já são seis meses de namoro. É
muito bom, porque, como diz a Flora, mulher do Gil, é a mesma enfermaria,
jornalista com jornalista, então ele entende.
E as pessoas te param
muito? Você consegue ir ao supermercado, por exemplo? Consigo, sim, imagina…
Mas as pessoas vêm conversar. Lembro que uma vez uma senhora falou: “Oi, Deia”.
Achei engraçado, fiquei pensando: “Será que eu conheço, será que é amiga da
minha avó?”. E ela disse: “Ai, desculpa, é que acho que você está sempre na
minha casa, me sinto íntima”. Com o artista, a pessoa quer tirar foto, quer
falar dele, do personagem; com o jornalista, quer falar sobre o país. Às vezes,
pego elevador com alguém no meu prédio, e a pessoa: “E aí, o que você tá
achando, hein?”. Está supercorrido e eu falo: “Ah, a gente pode conversar disso
depois?”. Acontece direto de estar num show e as pessoas pararem para conversar
comigo sobre política. Na praia também e me incomoda, quando é invasivo. Se a
pessoa está te dando um retorno, acho legal.
Talvez a gente nunca tenha discutido tanto política no
Brasil e o país nunca esteve tão polarizado. Mas um denominador comum é a nossa
descrença na política. Você acha que é possível a gente voltar a ter fé em
Brasília e na política? Você fala em fé e eu só consigo pensar que “a fé não
costuma falhar”. É automática a música do Gil para mim. Acho que vou na
contramão das pessoas. Não acredito em qualquer outra coisa que não seja a
política. Não tem saída fora dela, da democracia. Então, você tem que ter fé.
Não é porque muda A, B, C que você vai deixar de ter esperança em um Brasil
melhor. Acabou a eleição, então, a partir disso, todo mundo tem o mesmo foco,
que é esperar que o Brasil dê certo. Não é porque o seu lado perdeu ou ganhou
que você vai deixar de ter fé. Sou otimista para algumas coisas, mas sou muito
realista. Acho que, na polarização, as pessoas não enxergam porque elas não
querem. Você tem muito avanço em algumas áreas, muito retrocesso em outras, e
isso em todos os governos. Quem acompanha o assunto sabe disso. Não faço juízo
de valor porque estou lidando com fatos, mas sou uma pessoa de muita esperança.
E o que te move, qual é a sua fé pessoal? Acho que o que me
motiva é saber que, com informação, a pessoa vai longe, chega aonde quiser. Amo
quando a pessoa me fala que entendeu tudo [o que Andréia está noticiando],
tenho vontade de abraçar e levar para casa, porque sinto que venci na vida.
Realmente me motiva. Não faço nada sem tesão e sou muito apaixonada pelo que
faço. Acredito que a informação transforma. É um papel muito grande esse da
imprensa, de protagonismo total. Ainda mais em tempos de fake news.
Créditos
Produção Executiva: Adriana Verani | Estilo: David Pollak |
Beleza: Rafaella Crepaldi | Com produtos Nars e Davines | Produção de Moda:
Caroline Born e Kato Pollak | Assistente de Beleza: Bia Ota | Assistente de
Foto: Wallace Costa | Tratamento de Imagem: RG Imagem | Andréia usa vestido,
saia e blusa Paula Raia e Pingentes figa Gabriel Pessagno Collector
Texto e imagem reproduzidos do site: revistatrip.uol.com.br
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