Publicação compartilhada do site CINEMA DE BUTECO, de 29 de outubro de 2023
Review Mussum, o filmis: Mais que uma bela homenagem, um dos melhores filmes de 2023
Por Tullio Dias
A crítica do filme Mussum, o filmis possui spoilers e deverá ser apreciada com moderação.
ASSIM COMO A XUXA, O MUSSUM E OS TRAPALHÕES FIZERAM PARTE DA INFÂNCIA DE TODO MUNDO QUE NASCEU A PARTIR DA DÉCADA DE 1980. Nada mais belo que relembrar parte da carreira de Antonio Carlos, da sua infância até a época do serviço militar, depois o samba, e, finalmente sua participação como o lendário Mussum. Silvio Guindane, mais conhecido por seu trabalho como ator (A Divisão e Bom Dia, Verônica), faz uma estreia segura como diretor e se responsabiliza por um dos melhores filmes de comédia de 2023.
Para uma cinebiografia como a de Mussum, com tantos “personagens” famosos e importantes na nossa memória afetiva, a missão seria 8 ou 80. Ou Guindane acertaria em cheio ou teria um problemão nas mãos. Felizmente, foi a primeira opção. Todas as caracterizações funcionam. E o mais interessante é que todos deixam aquele gostinho de “quero mais”, como é o caso da participação de Chico Anysio (Vanderlei Bernardino) e os Trapalhões, que me fizeram mudar (parcialmente) de opinião sobre o Dedé.
Mussum começa com um flashback. Após a gravação de um quadro engraçado dos Trapalhões, Mussum recebe a notícia de que a mãe está no hospital. Somos levados para a sua época de infância, quando ficava andando pra lá e pra cá com a camisa do time inventado pelo José Assis Aragão, José Roberto Wright e a rede Globo. O pequeno Mussum sente uma atração pelo samba, mas a mãe trata de colocá-lo em uma escola para seguir carreira militar. Dentro dessa fase, é emocionante a cena em que filho e mãe se conectam através de um caderno de caligrafia, quando ele a ensina escrever seu próprio nome.
O tempo passa e o pequeno Mussum cresce. Vivido pelo comediante (atleticano) Yuri Marçal, acompanhamos sua mudança de carreira: da segurança de uma salário como militar para a vida de um sambista em ascensão, para o desespero da mãe. Aliás, que belo trabalho da dupla Cacau Potássio e Neusa Borges na pele de Malvina. Elas encarnam a proteção feroz de uma mãe, a admiração cega (como na cena em que a mãe encontra um instrumento musical sem saber da vida dupla do filho) etc. Existem belas rimas visuais de momentos compartilhados entre mãe e filho em diferentes fases, o que apenas eleva a beleza da cinebiografia.
Na última passagem de tempo (e vamos voltar a falar sobre isso daqui a pouco), Ailton Graça assume o papel em definitivo. É quando o filme amadurece e cria as discussões mais profundas na vida do personagem, como o peso da decisão de abrir mão do que ama para seguir com o trabalho mais lucrativo. Assim como havia feito antes, ao preterir a carreira militar pelo samba. No fundo, o grande trunfo da obra é falar diretamente com todos aqueles que possuem sonhos de uma vida melhor fazendo o que realmente amam. É muito fácil se identificar com a mensagem de Mussum, que nesse ponto lembra demais o também excelente Nosso Sonho, cinebiografia da dupla Claudinho e Buchecha.
Me chamou a atenção o destaque sutil que Chico Anysio e Renato Aragão (Gero Camilo) recebem. Ambos são retratados como verdadeiros gênios do humor, mas não recebem foco em momento algum. É uma decisão acertada, principalmente se tratando do relacionamento com Didi. Existe um momento em que Dedé sugere uma renegociação de contrato e alguém responde dizendo “você sabe como o Ceará é difícil de lidar”. É a única parte mais explícita sobre os problemas de relacionamento dentro dos Trapalhões. A câmera, no entanto, aprofunda esse distanciamento na sequência do enterro de Malvina, quando Didi é o que aparece longe de Mussum, Zacarias e Dedé, o que nos faz pensar em uma relação estritamente profissional.
No entanto, nem só de elogios vive Mussum. A passagem de tempo entre a época de Marçal para Graça é pouco clara. Não entendemos quanto tempo passou exatamente, problema que se repete a partir do momento em que começa a sua participação nos Trapalhões. É curioso como Guindane cria uma passagem de tempo tão eficaz nos encontros de Mussum e sua primeira esposa nas rodas de samba, mas depois não controla tanto o que acontece nos anos seguintes.
Mussum, o filmis é uma das grandes joias do cinema nacional em 2023 e um dos principais lançamentos da temporada. A atuação de Ailton Graça é um verdadeiro charme para eternizar (ainda mais) a lembrança de um dos nossos maiores artistas. Se prepare para rir muito e se emocionar ao conhecer um pouquinho da intimidade dessa lenda chamada Mussum. Filmão.
Texto reproduzido do site: cinemadebuteco com br
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