Publicado originalmente no site da UOL, em 23/05/2016.
Adeus, Controle Remoto.
TV passa pela maior revolução da história, afirma crítico do
UOL
Por Daniel Castro.
A televisão brasileira está passando pela "mais
profunda transformação" já ocorrida nos 65 anos de existência do veículo
no país. A revolução digital está obrigando a mídia mais poderosa do planeta a
se reinventar. Novas plataformas de distribuição estão mudando os hábitos de
consumo e destruindo um dos pilares da televisão como a conhecemos, a grade
linear. Responsável pela guinada ao popularesco, duas décadas atrás, o controle
remoto tende à extinção.
É o que defende, em linhas gerais, o principal crítico de
televisão do país, Mauricio Stycer, no livro Adeus, Controle Remoto. A obra
(editora Arquipélago, 256 páginas, R$ 44,90) reúne textos publicados pelo
jornalista em seu blog no UOL e na Folha de S.Paulo nos últimos cinco anos. Mas
não se trata de uma simples coletânea. Agrupados por tema e entrelaçados por
novos textos, os artigos traçam um painel crítico e profundo do momento pelo
qual passa a televisão mundial. Stycer vai do beijo gay de Amor à Vida (2013) a
Mad Men (sua série preferida na última metade de década). Discute o impacto da
Netflix, do YouTube e das novas estratégias narrativas. Com texto saboroso,
passeia pela baixaria, pela apelação e elege os momentos mais constrangedores
que se viu obrigado, profissionalmente, a testemunhar. Reconhece, também, que a
televisão é capaz de produzir conteúdo de alta qualidade.
O livro terá noite de autógrafos hoje (23), a partir das
19h, na livraria Blooks, no shopping Frei Caneca (rua Frei Caneca, 569, região
central de São Paulo). Stycer deu a seguinte entrevista ao Notícias da TV, em
que discute tópicos centrais de seu livro:
Seu livro defende que a televisão está passando pela mais
profunda transformação já vivida pelo veículo. O título sugere que o controle
remoto vai virar peça de museu. Que revolução é essa? Você arriscaria dizer que
o televisor um dia vai migrar para outras telas completamente?
Mauricio Stycer: Em poucas palavras, a revolução é ver o que
você quiser, na hora em que bem entender, no aparelho de sua escolha _o próprio
televisor, o telefone, o tablet, o notebook etc. Quando falo "adeus,
controle remoto", quero dizer especialmente que o hábito de zapear vai
acabar. Cada vez faz menos sentido sentar diante de um aparelho de TV e ficar
procurando o que ver entre 200 canais. O aparelinho de controle remoto, em si,
ainda servirá para ligar e desligar algumas máquinas. O aparelho de televisão
ainda tem vida, mas se você pesquisar entre os jovens, verá que diminui o
número dos que ainda veem TV prioritariamente desta forma.
Novas plataformas como Netflix e YouTube, que trazem um modo
diferente de consumir conteúdo audiovisual, são uma ameaça para a televisão
tradicional? O vídeo de dois minutos vai substituir o capítulo da novela? O
conteúdo on demand, ou à la carte, vai substituir a grade linear?
Stycer: O espectador é um ser passivo diante da grade
linear. Só tem duas opções: ver ou não ver o que determinada emissora está
oferecendo. A Netflix e outros serviços, sejam de streaming, sejam de compra on
demand, alteraram totalmente essa lógica. Ao tornar o consumidor dono dos
horários e do quanto quer ver (o binge-watching), a revolução digital promove
uma reeducação. Sobre o YouTube, o que me chama a atenção hoje é ver youtubers
querendo aparecer na televisão. Acho que há algum problema aí. Não deveria
estar ocorrendo o contrário?
No terceiro capítulo (O Futuro Ainda não Começou), você
afirma que a televisão brasileira terá um salto de qualidade quando os recursos
de publicidade diminuírem. Como assim? A fartura de recursos financeiros
estimula a guerra pela audiência e, consequentemente, a baixaria, certo? Mas,
para se produzir com qualidade, também não é necessário ter dinheiro, já que
televisão é um negócio caro?
Stycer: Você tem toda razão. No modelo de televisão mantido
por publicidade, ela é essencial para o desenvolvimento de bons produtos. Esta
frase que você citou, fora do contexto, realmente pode permitir uma leitura
errada. Concluo a introdução do capítulo sobre baixaria dizendo isso. É que me
espanto de, ainda hoje, emissoras criarem programas orientados exclusivamente
pela obsessão em conseguir audiência. Assim têm nascido algumas aberrações,
como o Domingo Show, da Record. O que tentei dizer é que só quando os
anunciantes pararem de apoiar iniciativas desse tipo é que haverá um salto de qualidade
na TV aberta.
Isso já aconteceu antes?
Stycer: Já. O SBT viveu essa experiência alguns anos depois
do seu lançamento, em meados dos anos 1980. Tinha uma programação de baixíssima
qualidade, mas poucos anunciantes. Silvio Santos foi, então, convencido a dar
um salto de qualidade. Trouxe Jô Soares, Boris Casoy...
Você se considera um telespectador profissional desde 2008.
Quais foram as maiores apelações e baixarias que você viu nesses oito anos? E o
que mais te impressionou positivamente?
Stycer: Sem pensar muito (para a lista não ficar muito
grande), acho que a maior aberração que vi na TV nos últimos anos foi a
"entrevista" com Bilu, o ET de Corguinho, exibida pelo Domingo
Espetacular, da Record, em outubro de 2010. E, em segundo lugar, o debate promovido
no Domingo Show, da mesma emissora, em 2014, sobre as "provas" de que
Michael Jackson estaria vivo.
Positivamente, falando apenas de TV aberta, também tenho uma
lista grande. Para não cometer injustiças, eu citaria o esforço de vários
autores e diretores de novela de revitalizarem o gênero. No livro, menciono
alguns desses exemplos.
O que você assiste atualmente com prazer, não apenas pelo
dever profissional? E o que não assistiria, se não precisasse?
Stycer: Hoje, em maio de 2016, ainda falando somente de TV
aberta, assisto com prazer Velho Chico, Profissão Repórter, qualquer coisa que
Silvio Santos faça e, para mencionar um "guilty pleasure", o reality
Power Couple. Se não fosse pelo dever profissional, eu não acompanharia com
tanta atenção (vejo diariamente) várias novelas no ar.
Texto e imagem reproduzidos do site: noticiasdatv.uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário