Publicado originalmente no site Antenados na Sky e Cia, em 31 de julho de 2018
Para combater a crise no setor Globosat e sky pedem união
O diretor geral da Globosat, Alberto Pecegueiro, e o CEO da
Sky, Luiz Eduardo Baptista, cobraram, durante o PAYTV Forum, que acontece esta
semana em São Paulo, união do setor para proteger a TV paga dos entrantes no
mercado de conteúdo. "Estamos sempre sendo desafiados e o entrante sempre
tem a simpatia. O negócio da TV paga sempre encontra reação do
consumidor", disse Pecegueiro. "Estamos numa era em que todos os
'seres jurássicos' têm que se unir. Temos um legado a defender. Tem muito o que
podemos fazer em cooperação, mantendo ainda alguma concorrência",
concordou Baptista. Para eles. A indústria de TV por assinatura tem muito a
mostrar e um grande valor conjunto, quando olhado sob a ótica da oferta de
todos os canais, mas muitas vezes isso acaba não sendo percebido.
Pecegueiro fez duras críticas ao modelo da Netflix no
evento. Segundo ele, ao entregar conteúdo por um valor baixo, a plataforma
destrói o valor da TV por assinatura. "Netflix tem inúmeras qualidades.
Ninguém questiona as novidades tecnológicas e a mudança no hábito de consumo
que ela trouxe. A questão é que o modelo de precificação ainda é insuficiente.
Até que encontre um modelo sustentável, ela é uma destruidora do valor do
setor", disse. "Por que se entrega tanto conteúdo por tão pouco
valor?", questionou.
Segundo ele, os estúdios já admitem que criaram um monstro
ao ceder conteúdos à Netflix. Hoje, a plataforma destina grande volume de
recursos a produções exclusivas, enquanto os estúdio começaram a retirar seus
conteúdos. "Esses conteúdos (dos estúdios) ainda representam 70% a 80% dos
acessos. Aumentar o volume de produção própria, em nível global, pode ser
irresponsável", disse o executivo. Para Pecegueiro, como o Brasil é o
segundo mercado da plataforma, é também
desse investimento. O executivo diz que o investimento por aqui, no
entanto, é de qualidade duvidosa, "como aconteceu conosco no passado".
A série "3%", produzida para a Netflix no Brasil pela Boutique,
chegou a ser, entretanto, a série de língua não-inglesa mais assistida dos EUA.
O executivo destaca que o volume de conteúdo na TV paga é
substancialmente maior. "Em 2017, o conjunto das programadoras da TV paga
ofereceu 2,3 mil séries. A Netflix tem 1,2 mil", disse. Ele se refere a
conteúdo com dois ou mais episódios.
O diretor geral da Globosat atacou ainda a entrada dos
players online na disputa de direitos esportivos. "A bolha do preço de
direitos esportivos cresce e estoura periodicamente, mas como pode crescer
exponencialmente enquanto o país vive sua pior recessão. Ninguém aqui está
soltando foguetes. Por quê o segmento esportivo está fora desse processo? Por
que alguém vai se dispor a pagar o dobro do que foi pago no último ano?"
Segundo Pecegueiro, a compra dos direitos da Champions
League pelo Facebook foi "um processo não ético". Além disso, ele diz
que a rede social não sabia qual é realmente o negócio: "Agora tem que
produzir os jogos e não sabe fazer isso". Para o executivo, o investimento
não vai se pagar. "Eles vão aprender isso. Coletivamente a indústria de TV
é muito forte. Dá para segurar até eles aprenderem", afirmou, ao ser
questionado se esses novos modelos trazidos não corriam o risco de
desestruturar a indústria de TV paga até que um modelo de equilíbrio fosse
encontrado.
Crise
Os dois executivos comentaram também a queda de base no
setor. "Não percebemos queda de demanda. Há muita 'desconexão
involuntária' (quando a operadora corta o sinal por inadimplência). Acabou o dinheiro,
mas o assinante ainda percebe o valor do produto", disse Pecegueiro.
"Todos nós perdemos margem, mas colocamos em primeiro lugar a qualidade
porque sabemos que uma hora saímos dessa encrenca. Esses ciclos da economia
brasileira – na hora que sai, tem que ter um produto bom para entregar.
Para Baptista, pode-se apresentar diferentes explicações
sobre a retração do setor nos últimos anos com base em mudanças de hábitos,
novas aspirações, evolução da tecnologia etc. Mas o que vale mesmo para
explicar é a falta de renda. "Temos uma indústria que tem uma correlação
íntima com o índice de emprego", disse. "Tomamos a decisão há quatro
anos de ser intolerante com quem não pode pagar o custo mínimo do que
entregamos. Para quem ficou, temos resultados melhores. Quem achávamos quera
coisa momentânea, contemporizamos. Mas os outros, deixamos ir".
Para o presidente da Sky,
o setor precisa se reorganizar para um processo de cadeia de valor com
desintermediação. "Vai sobreviver quem tiver o marketing de conteúdo parrudo.
Me vejo como muito mais que uma operadora: um distribuidor de conteúdo",
disse.
O presidente da operadora de DTH lembrou ainda que o
desarranjo do mercado traz o tema da curadoria. A questão a ser resolvida é
como se criar um market place de conteúdos, incluindo a curadoria das
operadoras. Para a Sky, "fair share" de cada elo vai mudar, mas os
grandes market places de conteúdos, os shopping centers, não vão morrer.
"Eu não trabalho para destruir valor de nada que não tenha um swap imediato",
disse o executivo. "Os entraves são os conflitos de como fazer. Como sair
do modelo a para o B".
Texto e imagem reproduzidos do site: antenadosnaskyecia.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário