Terça-feira, 18 de Junho de 2013 |
ISSN 1519-7670 - Ano 17 - nº 751.
JORNAL DE DEBATES
A Noite dos Perplexos.
No país do futebol, a goleada dos protestos
Por Alberto Dines
Inimaginável: William Bonner, o âncora mais conhecido e
editor-chefe do mais importante telejornal brasileiro, obrigado a fazer o papel
de coadjuvante no segundo dia da Copa das Confederações porque as ruas de dez
capitais do país – inclusive Brasília – foram tomadas por gigantescas
manifestações populares. Muitas contra o desperdício de dinheiro para construir
estádios suntuosos para os megaeventos até 2016.
Tudo previsto, armado, roteirizado: Bonner conduziria o
jornal a partir das capitais onde a seleção brasileira deveria jogar (na
segunda-feira, 17/6, estava em Fortaleza), enquanto a companheira de bancada
Patricia Poeta faria a interlocução. Na primeira edição em dia útil, ela acabou
conduzindo noticiário e ele contentou-se com breves comentários. Inédito,
assustador.
As autoridades foram ainda mais surpreendidas do que a Rede
Globo pela dimensão e duração do protesto. Não levaram a sério as vaias à
presidente Dilma Rousseff no sábado (15), durante a abertura desta copinha de
nome complicado – das Confederações – e pouco empolgante. A culpa foi atribuída
à oposição e aos derrotistas.
Todos contavam com a paixão nacional. Todos foram
vergonhosamente driblados por ela. O aumento das tarifas de transporte público
previsto para o início do ano foi chutado para a frente a fim de não impactar
no cálculo da inflação. Acabou impactando na história política do Brasil.
Às avessas
Nos três primeiros protestos em São Paulo, autoridades
estaduais e municipais, em uníssono, classificaram os excessos como vandalismo.
No quarto evento (quinta-feira, 13/6), a polícia sentiu-se na obrigação de
enfrentar os vândalos. A culpa foi atribuída à imprensa.
Na segunda-feira (17), Noite dos Perplexos, a manifestação
em São Paulo foi pacífica (até a hora em que este comentário está sendo
fechado, 0h55 de 18/6). A do Rio foi maior e com um surto de violência
inesperado diante da Assembleia Legislativa. A tristemente célebre Gaiola de
Ouro (Câmara Municipal) passou incólume.
Os vinte centavos de aumento estavam esquecidos, a
estatização dos transportes, idem: os cartazes falavam em transporte decente,
melhores escolas, mais hospitais e fim da corrupção.
Na Praça dos Três Poderes em Brasília os manifestantes
passaram ao largo das sedes do Executivo e do Judiciário. Coincidência ou não,
concentraram-se diante e em cima do Congresso Nacional, cujo desprestígio bate
todos os recordes.
Ao vivo, com transmissão simultânea e todos os requintes
tecnológicos, a poucos dias do início do inverno, uma primavera às avessas: uma
ventania imprevista rasgou o calendário e levou todos os scripts.
Texto reproduzido do site: observatoriodaimprensa.com.br
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